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Negócios ganham volume com a reformulação do portfólio

Luiz Gerbase: "Esforço é para aperfeiçoar ferramentas que dão condições à inovação"

Um papel sintético feito a partir de plásticos reciclados, uma tinta de impressão que elimina custos de secagem e uma solução de tratamento de lixo que produz energia elétrica. Essas invenções fazem parte de processos industriais inovadores criados por pequenas, médias e grandes empresas que investem mais de R$ 10 milhões por ano no desenvolvimento de novos produtos e serviços. As novidades servem ainda para gerar um maior volume de vendas e ampliar contratos. Na Henkel, que fatura R$ 840 milhões no Brasil, mais de um terço das entregas é gerado por produtos lançados há menos de três anos. Guillermo von Bergen, gerente de marketing regional da empresa, dona das marcas Super Bonder e Pritt, diz que 3% do faturamento anual vão para pesquisa e desenvolvimento .

A Vitopel, com unidades industriais no Brasil e na Argentina, é considerada a quinta maior produtora mundial de filmes flexíveis de BOPP (polipropileno biorientado) e investe cerca de US$ 2 milhões por ano em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Os BOPP são filmes plásticos usados em rótulos e embalagens de biscoitos. O foco de inovação da companhia é desenvolver produtos com responsabilidade ambiental e ampliar o mercado comprador.
No ano passado, lançou o Vitopaper, um papel sintético feito a partir de plásticos reciclados. "Para cada tonelada de papel sintético produzido, retira-se das ruas e lixões cerca de 850 quilos de resíduos plásticos", garante Dirceu Varejão, diretor comercial da Vitopel. O resultado é um material similar ao papel couché.

O produto levou cerca de dois anos para ser desenvolvido, com investimento de R$ 4 milhões. A patente mundial foi registrada em 2008. "O papel não rasga, é impermeável e pode ser reciclado várias vezes", afirma. "Quando livros didáticos feitos de Vitopaper ficarem desatualizados, podem ser reciclados e produzir novos materiais."

Outra vantagem do produto está no processo de impressão: absorve menor quantidade de tinta, com uma economia de até 20% em relação a outros materiais. Hoje, além de livros, a novidade é utilizada em material corporativo institucional, como relatórios de resultados anuais, e artigos de comunicação visual.

No ano passado, a Vitopel produziu mais de mil toneladas do Vitopaper em Mauá, Votorantim (SP) e em Totoral, na Argentina. Em 2010, a expectativa é dobrar a produção e investir US$ 55 milhões em uma nova linha de produção no Brasil, de olho no segmento de filmes. "Os planos ainda incluem a compra de ativos dentro e fora do país", revela o executivo.

Também no setor de embalagens, a Antilhas Soluções Integradas, com sede em Santana do Parnaíba (SP), investiu R$ 20 milhões em inovação nos dois últimos anos. Em 2008, criou a Technosolutions, uma incubadora de ideias voltada para inovação tecnológica. A empresa tem patentes depositadas internacionalmente, como a tinta de impressão GelFlex-EB, que apresenta cura por feixe de elétrons e custos operacionais próximos aos das impressões com tintas à base de solventes. A tecnologia promove a secagem do material impresso mediante a reordenação de cadeias moleculares. "Outras patentes estão em diferentes estágios de desenvolvimento", garante Mauricio Groke, diretor comercial da Antilhas.

O desenvolvimento dessa tecnologia, lançada em 2009, começou há três anos. "A impressão com cura por feixe de elétrons é estudada há muito tempo, mas só agora foi possível atingir objetivos como a facilidade de manipulação, velocidade na impressão e corte de custos com o fim do processo de secagem."

Segundo Groke, a impressão com a GelFlex-EB, que pode ser aplicada em filmes flexíveis, oferece imagens mais limpas e contrastadas. A redução dos impactos ambientais no processo também aparece como diferencial. "A diminuição do consumo de energia pode representar até 50% de economia, na comparação com sistemas convencionais de impressão", diz.

Para levar a novidade ao mercado, o projeto exigiu da Antilhas adaptações no parque de máquinas e a criação de uma equipe de implantação. A partir de maio, pretende fechar contratos nos segmentos alimentícios e de papelaria. Criada há 21 anos, a empresa tem 560 funcionários e fabrica embalagens em papel, cartão e plástico, caixas e sacolas para clientes como O Boticário e Natura. Apresentou um crescimento de 13,5% entre 2008 e 2009 e espera aumentar os negócios em 16% até dezembro.

Este ano, deve se concentrar na ampliação da planta. O parque industrial da empresa conta com 22 mil metros quadrados e deve ganhar mais seis mil metros quadrados nos próximos meses. A reforma pretende dinamizar a linha de produção com a chegada de novas máquinas e garantir agilidade ao centro de distribuição - além de desenvolver projetos de embalagens, o grupo cuida da produção, gerenciamento de estoques e entrega de unidades em mais de 12 mil pontos de venda no Brasil. "Até 2011, vamos investir R$ 10 milhões em tecnologias e equipamentos."

Na Águas Ouro Fino, considerada a segunda maior engarrafadora de água mineral do Brasil, os investimentos em inovação aparecem no design dos produtos. A meta é agregar valor às mercadorias e sair na frente da concorrência. "A inovação tornou-se obrigatória", lembra Augusto Mocellin Neto, presidente do conselho administrativo da companhia. "Começamos pela modernização da logística, investimentos em maquinário e em marketing de relacionamento." Hoje, a linha de produtos é fabricada em pet, depois de ter usado policarbonato, polipropileno e PVC.

Em 2008, a empresa ganhou o segundo lugar do Prêmio CNI na categoria grande e média indústria, com o projeto Ouro Fino Plus. A companhia pesquisou durante dois anos o desenvolvimento da embalagem que utiliza pet cristalino para destacar a pureza da água envasada. O produto foi projetado para pessoas ambidestras e vem com uma tampa que pode ser usada como copo.

Sediada em Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba (PR), a Águas Ouro Fino foi criada em 1946. Recentemente, entrou no setor de refrigerantes. "Investimos em tecnologia de produção e na diversificação de embalagens." Segundo Mocellin, os produtos criados nos últimos quatro anos correspondem a 20% do faturamento. Em 2010, a empresa pretende crescer 10% e prepara o lançamento de mais uma embalagem, ainda em segredo.
Na Altus, as ações de P&D de produtos e serviços são impulsionadas por uma equipe de 40 profissionais. A empresa de São Leopoldo (RS), especializada em desenvolver soluções de tecnologia para o setor de automação, investe R$ 2,5 milhões por ano em inovação. "O esforço é para aperfeiçoar ferramentas que dão condições à inovação", explica o presidente da Altus, Luiz Gerbase.

Este ano, os aportes vão para equipamentos de automação industrial, batizados de controladores programáveis e capazes de gerenciar grandes operações industriais, como usinas hidrelétricas e plataformas de petróleo. "Já fornecemos mais de 300 mil controladores." O faturamento da Altus em 2009 foi de R$ 82 milhões. Gerbase espera aumentar a receita em até 20% em 2010, principalmente com contratos nos setores de energia e petróleo.
Na Microambiental, que criou uma solução para o tratamento de lixo que produz energia elétrica, o orçamento de 2010 para processos inovadores é de R$ 10 milhões. A verba segue para o desenvolvimento de novas aplicações para o destino de resíduos urbanos, como o uso de micro-ondas e de equipamentos de controle de emissões de gases.

"O processo de tratamento do lixo com microondas elimina grande parte do material encaminhado a aterros, produz energia elétrica e elimina gases de efeito estufa", explica Luciano Prozillo, diretor da Microambiental, que faturou R$ 20 milhões em 2009. As duas primeiras unidades de tratamento serão vendidas a partir de junho.
A meta da empresa sediada em Jundiaí (SP) é entregar dez equipamentos em 2010 para prefeituras, empresas privadas e redes de hospitais. "A previsão de faturamento é de R$ 200 milhões e já temos consultas de compras dos EUA, Canadá e América Latina."

Na Henkel, a renovação do portfólio tem foco em inovação e introdução de novas tecnologias, segundo Guillermo von Bergen, gerente de marketing da empresa de 900 funcionários. Cerca de 150 colaboradores estão envolvidos com o desenvolvimento de produtos inovadores, que atentem para as políticas socioambientais.

Este ano, o interesse é desenvolver produtos para o tratamento de superfícies e adesivos industriais, como o Bonderite. O produto utiliza a nanotecnologia para tratar metais antes do processo de pintura e é usado nos segmentos de linha branca e na indústria automotiva. "Reduz custos com energia e diminui a necessidade de limpeza das peças, economizando água." A Electrolux e a Whirpool Latin America já são clientes do produto.

Jacilio Saraiva, para o Valor, de São Paulo

Publicado por: http://www.valoronline.com.br/impresso/investimentos/119/112109/negocios-ganham-volume-com-a-reformulacao-do-portfolio